Fronteiras são fechadas, viagens são canceladas e re-encontros são adiados. Também cabe a cada um de nós fazer com que os nossos possam ver os deles.
A grande maioria de quem está fora do seu país fê-lo porque algo externo a si mesmo o motivou: formação académica, procura de melhores condições profissionais, uma escolha familiar... No entanto, essa que outrora foi uma escolha, passa agora por momentos de uma qualidade muito diferente: a obrigatoriedade.
Em tempos de pandemia, essa então não-escolha tornou-se um dos maiores desafios de quem está fora e deseja regressar ao "seu" país. Tanto de amigos, como de pessoas com quem vou partilhando o quadrado digital que é a sala de terapia, surgem relatos de dor e medo por estarem longe das suas famílias, muitos impedidos de saírem de onde estão ou de entrarem no país de origem. Impedidos pelas autoridades, ou pela voz interna do medo de serem focos de contágio ao arriscarem atravessar fronteiras.
O medo por si só, o sentido de expatriação forçada, uma sensação de falta de controlo exacerbada, e a frustração de querer algo que não está ao alcance - tão importante como a noção de segurança e possibilidade de amor - são algumas das dificuldades pelas quais se passa. Desde logo podemos pensar nas imensas repercussões emocionais que surgem ao não estarem supridas as necessidades básicas humanas de segurança e amor.
E o medo, como emoção primária, pode ser avassalador, quando se lhe tira a rede de suporte que é a noção de controlo.
Quando não consciente, esta é uma espiral descendente difícil e até mesmo nefasta. É importante ganhar conhecimento dos desafios internos para, então, descobrir-se como cuidar das necessidades que vão surgindo - mutáveis e à mercê de mudanças abruptas das quais esta fase se caracteriza. Depois então podemos chamar a criatividade e pensar em maneiras de corresponder a essas necessidades.
Por outros termos, enfrentar o medo, perceber o que ele te quer dizer e ser pró-activo na forma corajosa como esse(s) pedido(s) é (são) atendido(s).
Ainda assim, há também um trabalho global que apelo a todos, e não só a quem está longe das suas famílias. É que quem está longe precisa de quem está perto. Não só no sentido de apoiar quem está “cá”, mas também para cumprir a sua parte do acordo social. Enquanto atitudes inconscientes continuarem a levar à propagação descontrolada do vírus, as medidas vão estar viradas para dentro, impedindo que quem está fora possa visitar os seus familiares e amigos.
Fronteiras são fechadas, viagens são canceladas e re-encontros são adiados. Também cabe a cada um de nós fazer com que os nossos possam ver os deles.
Psicóloga Clínica RUMO
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